* Reprodução neste blog gentilmente autorizada pela autora
Sopro frio no fim da tarde
Cabelos são linhas assimétricas
desenhando coisas na cara concentrada
A artesania dos ventos cria figuras
distintas sobre o caldo da Mundaú
Uma mão de ternura esfrega o
“mata-piolho” no “fura-bolo”
E eles se ocupam, se completam para o
nó
e chamam o “maior
de todos” para
apertar o laceado.
E a mãe intima o moleque andejo,
E ele acode, vindo de perambulâncias
inconfessadas, pelos arredores:
“Ô menino, aprega o quadro e me
traz aqui!
Chegue, menino, demore não, que
preciso
Armar o quadro e começar o caseado”.
E o “seu-vizinho”
procura seu par
E convida o “mindinho”
para ajudar a urdir
os fios de mil e uma cores.
E vai surgindo a nervura
E vai engrossando a textura
E vai se configurando um labirinto
No meio da renascença de vidas
miúdas e serenas da beira d’água:
um ato de dessa fé.
E do outro lado, beirando o Velhinho
a quem chamam de Chico
os viventes da Ilha do Ferro se dão
boas-noites em muitos tons
E eles assustam forasteiros com os
paus que viram bichos feios, carrancudos,
extraordinários.
E tem tanto pano bonito,
de não se querer usar pra não
gastar
E eles se estendem terra adentro,
água adentro
à guisa de DNA, como
espelho-espelho-meu
Sento no banco torto, onde se
escrevem histórias de vida
e me misturo às nervuras da trama:
feito linha e fita,
matame e chuleado
E eis que sou um deles, pendurada num
varal, à venda...
Ei, moço, moça, me compra, me leva!
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