Voz de Ricardo Moresi
* Reprodução neste blog gentilmente autorizada pela autora
Observo as mãos enrugadas, dedos longos e magros seguram uma xícara
de café fumegante.
No rosto envelhecido, o olhar cansado, os vincos na pele indicam que
muita bagagem acumulada ocupa aquele ser tão interessante.
Os gestos lentos e os cabelos prateados são para mim um convite, que
vontade de me aproximar, sinto uma necessidade gritante de conversar
com aquela senhora, mas receio não ser bem recebida, geralmente as
pessoas mais velhas são desconfiadas e arredias.
Embora eu já tenha terminado o meu lanche, decido ficar mais um
pouco observando aquele "livro vivo", quem sabe até tomo
coragem de ir até lá cumprimenta-la. O nome dela é Guilhermina, a
garçonete pergunta algo, que fica sem resposta.
D. Guilhermina está praticamente imóvel, sentada próximo a uma
grande vitrine, ela tem o olhar fixo em algum ponto, que eu, do lugar
onde estou não consigo identificar. O que será que ela está
pensando, ou em quem?
Levanto e caminho em direção a ela, chego devagar para não
assusta-la, a distração é tanta, que ela sequer percebe que eu me
aproximei. A chamo pelo nome, ela então me olha, pergunto se posso
fazê-la companhia, ela consente em silencio, com um sutil menear de
cabeça.
Após sentar a sua frente, eu me apresento e confesso que estou há
quase uma hora a observando, e que estou curiosa para saber a razão
da sua divagação, pergunto em que ou em quem ela está pensando.
D. Guilhermina sorri, olha em meus olhos e após um breve silencio
me responde: - Minha filha, quando cheguei a certa idade, parei de
pensar, vi que era perda de tempo, decidi então começar a resgatar
em minhas frágeis memórias, tudo o que eu já havia vivido até
hoje.
Comecei a reviver a minha vida, dia após dia, a medida que eu
conseguia tirar do baú de minhas experiências, os fatos que me
trouxeram aqui, que me fizeram amadurecer, percebi que me sentia
viva, rejuvenescida, era como se eu estivesse vivendo tudo novamente,
desta vez em um lugar mais confortável, como se estivesse em uma
plateia.
Sinto-me renovada e viva lembrando quem fui, e me sentindo viva eu
não penso na morte, desta forma, quando a morte um dia chegar para
me levar, eu irei feliz, pois vivi intensamente e em dobro, tudo que
me permiti.
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